Jesus foi ao Inferno?
Jesus desceu até o inferno? Leia Efésios 4:9
PROBLEMA: Paulo declara que Jesus desceu “até as regiões inferiores da terra” e o Credo dos Apóstolos declara que, depois de ter sido morto, Jesus “desceu ao inferno”. Entretanto, quando Cristo estava morrendo, entregou o seu espírito nas mãos do Pai (Lc 23:46) e disse ao ladrão que este estaria com ele no “paraíso” (Lc 23:43), ou seja, no “terceiro céu” (2 Co 12:2, 4). Para onde Jesus foi então: para o céu ou para o inferno?
SOLUÇÃO: Há duas posições a respeito do lugar para onde Jesus foi durante os três dias em que o seu corpo permaneceu no túmulo, antes da ressurreição: uns defendem que ele foi para o Hades; outros, que foi para o céu. Para o Hades. Os partidários dessa posição afirmam que o espírito de Cristo foi ao mundo espiritual, enquanto o seu corpo permanecia no túmulo.
Crêem que Jesus “pregou aos espíritos em prisão” (1 Pe 3:19), que estavam num lugar de cativeiro temporário, aguardando a sua chegada para “levar cativo o cativeiro”, isto é, levá-los para o céu. De acordo com essa posição, havia dois compartimentos no Hades (ou sheol), uma para os salvos e outra para os perdidos. Eles estavam separados por “um grande abismo” (Lc 16:26), que ninguém podia ultrapassar. A secção dos salvos era chamada de “o seio de Abraão” (Lc 16:23).
Quando Cristo, “sendo ele as primícias” da ressurreição (1 C > 15:20), ascendeu, Ele levou esses santos do AT consigo pela primeira vez. Para o Céu. Esse parecer sustenta que as almas dos crentes do AT foram diretamente para o céu no momento de sua morte. Em favor disso tem-se os seguintes argumentos:
Primeiro, Jesus afirmou que o seu espírito estava indo diretamente para o céu, quando disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23:46).
Segundo, Jesus prometeu ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23:43); mas “paraíso” é definido como sendo “o terceiro céu” em 2 Coríntios 12:2, 4.
Terceiro, quando os santos do AT deixaram esta vida, foram diretamente para o céu. Deus tomou a Enoque para si (Gn 5:24; cf. Hb 11:5), e Elias foi tomado “ao céu” quando partiu (2 Rs 2:1).
Quarto, “o seio de Abraão”(Lc 16:23) é uma descrição do céu. Em nenhum ponto ele é descrito como sendo o inferno. É o lugar para onde Abraão foi, que é o “reino dos céus” (Mt 8:11).
Quinto, antes da cruz, quando os santos do AT apareciam, era do céu que vinham, como aconteceu com Moisés e Elias no Monte da Transfiguração (Mt 17:3).
Sexto, os santos do AT tiveram de esperar a ressurreição de Cristo para que seus corpos fossem ressuscitados (1 Co 15:20; cf. Mt 27:53), mas suas almas foram diretamente para o céu. Cristo foi o Cordeiro morto “desde a fundação do mundo” (Ap 13:8), e eles para lá foram pelos méritos que Deus sabia que Cristo cumpriria.
Sétimo, a expressão “até as regiões inferiores da terra” não é uma referência ao inferno, mas ao túmulo. Até mesmo o ventre de uma mulher é descrito como sendo “profundezas da terra” (SI 139:15). Essa expressão significa simplesmente covas, túmulos, lugares fechados na terra, em oposição a partes altas, como montanhas. Além disso, o inferno não se localiza nas partes mais baixas da terra – mas “debaixo da terra” (Fp 2:10).
Oitavo, a frase “desceu ao inferno” não constava do Credo Apostólico primitivo. Ela foi acrescentada somente no século IV a. D. Além disso, um credo como tal não é inspirado, mas apenas uma confissão humana de fé. Nono, os “espíritos em prisão” não eram salvos, mas seres perdidos. Na verdade, essa pode ser uma referência a anjos, não a seres humanos (veja os comentários de 1 Pedro 3:19).
Finalmente, quando Cristo “levou cativo o cativeiro”, não estava levando amigos para o céu, mas trazendo inimigos a uma prisão. E uma referência à sua vitória sobre as forças do inimigo. Os cristãos não são “cativos” no céu. Não somos forçados a ir para lá contra a nossa própria e livre escolha (veja Mt 23:37; 2 Pe 3:9).